XXXII– A escrivaninha
Com graciosidade ela escrevia seus poemas... E era cada qual mais lindo que o outro. Gostava de vê-la de madrugada quando o sono tardava: sentadinha à nossa escrivaninha, acentuada em nosso quarto... Seus dedinhos enlaçados ao lápis corriam na cadência dos versos que lhes vinhas espontâneos... Enquanto ela permanecia atenta à compor, eu me deslocava à cozinha, preparava um café bem quentinho e a trazia em nosso quarto... Beijava-me no lábio afetuosa, me agradecia gentileza, e eu a dizia que era para mim um enorme prazer despertar os olhos e o riso contente no rostinho lindo de minha adorável mulher... E ela me sorria prazerosa, como sempre fazia quando demonstrava em algum gesto meu a infinidade desse amor que a tenho... E me dizia que eu não existia de tão bondoso que era. Beijava-a e retornava ao nosso leito deixando ela à escrivaninha compor seus encantados versos... E assim a admirava até e exaustão de si ou o término do poema...
Depois do poema já pronto, me pedia para eu recitá-la; e eu a recitava... Ela estendia seus olhinhos em mim... Às vezes chorava comovida com os próprios versos quando melancólicos... e quando felizes ria encantada... Ao terminar de recitar estendia-lhe os braços e ela vinha-me, deitava ao meu peito e tão logo pegava no sono... Eu permanecia acordado por um pouco de tempo assistindo-a dormir num dormir inocente de uma criança... Pedindo a Cristo que não levasse de mim tão cedo aquele pequeno anjo...
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